Kingdom Come: Deliverance não é apenas mais um RPG medieval; é uma experiência singular que transporta o jogador para a Boêmia do século XV, com um nível de autenticidade raramente visto nos videogames.
Desenvolvido pela Warhorse Studios, o jogo se destaca por sua recriação meticulosa de 1403, priorizando o realismo histórico e mecânicas profundamente imersivas.
Diferente de títulos mais fantásticos como The Witcher 3 ou Dragons Dogma, aqui não há dragões, feitiçaria ou criaturas mitológicas. Em vez disso, o foco está na vida medieval em toda a sua complexidade, desde as batalhas intensas até as tarefas mais triviais do dia a dia. Esse compromisso com a autenticidade desafia os padrões do gênero, trocando a fantasia pelo realismo e entregando uma experiência verdadeiramente única mas que não vem sem desafios.
O Mundo de Boêmia
Uma das maiores conquistas de Kingdom Come: Deliverance é a sua ambientação. A Boêmia medieval é recriada com um nível de detalhe impressionante: vilas autênticas, florestas vibrantes e paisagens rurais que parecem saídas de pinturas históricas.
O jogo não é apenas bonito, mas também funcional em sua escala. As cidades são proporcionais, os caminhos rurais são críveis, e cada elemento do cenário contribui para a imersão. O ciclo dia-noite e as rotinas dos NPCs reforçam ainda mais essa sensação de autenticidade. Ver camponeses trabalhando nos campos durante o dia e se reunindo nas tavernas à noite cria uma atmosfera viva e orgânica.
Ainda assim, essa fidelidade ao realismo pode ser considerada monótona por alguns jogadores, especialmente porque as áreas fora das cidades podem parecer desprovidas de vida ou eventos marcantes, sobretudo se comparadas ao dinamismo de RPGs mais fantásticos, como os já mencionados The Witcher 3 e Dragons Dogma.
Enquanto esses jogos frequentemente oferecem encontros constantes e elementos sobrenaturais para manter o jogador engajado, Kingdom Come: Deliverance opta por uma abordagem mais sóbria, refletindo a realidade histórica da época. Essa escolha deliberada pode ser vista como uma faca de dois gumes: por um lado, proporciona uma experiência autêntica e educativa; por outro, pode afastar aqueles que buscam escapismo e fantasia em seus jogos.
Além disso, a fidelidade histórica se estende aos detalhes mais sutis, como a arquitetura das edificações, que segue estilos góticos e românicos, e a flora local, representando com precisão as espécies nativas da região na época. Os desenvolvedores consultaram historiadores para garantir que até mesmo os trajes e armas fossem autênticos, evitando anacronismos comuns em outras obras de ficção medieval.
Uma Jornada de Vingança e Crescimento
A narrativa segue Henry, filho de um ferreiro que vê sua vila destruída pelo exército invasor do rei Sigismundo.
Movido pela vingança e pelo desejo de justiça, Henry embarca em uma jornada que o transforma de um simples camponês em um guerreiro respeitado. Embora o enredo seja envolvente e repleto de momentos memoráveis (como infiltrações em mosteiros ou batalhas épicas), ele também sofre com alguns tropeços. O ritmo pode ser desigual, com missões principais que às vezes parecem arrastar enquanto outras são emocionantes e cheias de ação.
A profundidade da história é enriquecida por personagens secundários bem desenvolvidos, cada um com suas próprias motivações e histórias de fundo. Interações com figuras como Sir Radzig Kobyla e Lorde Hans Capon oferecem perspectivas variadas sobre os conflitos políticos e sociais da época.
Além disso, o jogo aborda temas maduros, como violência e sexualidade, de maneira que reflete as duras realidades do período medieval. Enquanto isso contribui para a autenticidade, também levanta questões sobre a representação e sensibilidade desses tópicos, exigindo do jogador uma reflexão sobre a moralidade e as normas sociais da época.
Como é jogar Kingdom Come: Deliverance?
O grande diferencial de Kingdom Come: Deliverance está em suas mecânicas ultrarrealistas, que buscam capturar a essência da vida medieval com uma fidelidade impressionante.
Desde a necessidade de alimentar Henry regularmente até a manutenção de suas armas e armaduras, cada aspecto foi pensado para criar uma sensação autêntica de imersão. Esses detalhes incluem até mesmo lavar roupas sujas para causar uma boa impressão em nobres ou dominar a alquimia, que exige seguir processos manuais meticulosos como medir ingredientes e cozinhá-los no tempo certo. Tudo isso reforça a sensação de estar realmente vivendo naquele período histórico.
O combate é, sem dúvida, um dos aspectos mais ambiciosos e polarizadores do jogo. Baseado em técnicas reais de esgrima medieval, ele demanda paciência, estratégia e precisão.
O jogador precisa analisar os movimentos do inimigo, escolher cuidadosamente os ângulos de ataque e cronometrar bloqueios com perfeição. Essa abordagem realista proporciona um grande senso de conquista, especialmente após sessões de treinamento com NPCs como o rigoroso Capitão Bernard.
Derrotar um adversário mais forte torna-se não apenas uma vitória, mas também uma prova de habilidade adquirida.
No entanto, o sistema de combate tem seus desafios e problemas. Enfrentar múltiplos inimigos ao mesmo tempo pode ser frustrante, pois o sistema de mira não facilita a transição entre alvos, deixando o jogador vulnerável. Além disso, as animações nem sempre mantêm a fluidez necessária para acompanhar o nível de detalhe das mecânicas, quebrando em certos momentos a sensação de imersão.
Outro elemento que pode dividir opiniões é o sistema de salvamento. Fora os salvamentos automáticos em momentos específicos das missões, salvar o progresso só é possível dormindo em uma cama ou usando a Pinga da Salvação, um item caro e limitado. Embora essa mecânica reforce a tensão e o planejamento, ela também pode ser vista como punitiva, especialmente para jogadores menos acostumados a essa abordagem. A falta de um sistema mais acessível de salvamento pode transformar até mesmo as conquistas mais satisfatórias em frustrações desnecessárias.
No geral, essas escolhas de design são um reflexo do compromisso do jogo com o realismo, mas acabam levantando o questionamento: até que ponto a busca por autenticidade deve sobrepor a diversão e a acessibilidade? É um equilíbrio delicado que Kingdom Come tenta alcançar, com resultados que vão depender do gosto e da paciência de cada jogador.
Vale a pena jogar Kingdom Come: Deliverance?
Kingdom Come: Deliverance é uma experiência singular, especialmente para aqueles que buscam um RPG que prioriza autenticidade e imersão histórica acima de tudo. Sua recriação detalhada da Boêmia medieval, combinada com mecânicas ultrarrealistas e uma narrativa envolvente, faz dele um título que se destaca entre os jogos do gênero. No entanto, é preciso paciência para superar suas barreiras iniciais.
O começo do jogo pode ser desafiador, tanto pelo ritmo lento quanto pela curva de aprendizado íngreme. As mecânicas realistas e o combate exigem tempo e dedicação para serem dominados, o que pode afastar jogadores mais casuais. Além disso, os bugs ainda presentes mesmo anos após o lançamento podem comprometer a experiência em alguns momentos, sendo um lembrete frustrante das ambições que o estúdio tentou alcançar.
Mas, para aqueles que perseverarem, Kingdom Come oferece uma experiência única. É um jogo que não apenas desafia suas habilidades como jogador, mas também proporciona um mergulho profundo em uma época fascinante da história. Se você é capaz de tolerar um início lento e contornar os tropeços técnicos, encontrará uma joia rara, repleta de detalhes e momentos memoráveis. É uma jornada que recompensa a paciência e o comprometimento, características que, curiosamente, refletem a própria filosofia medieval que o jogo retrata.
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