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inZOI é uma nova esperança para os simuladores de vida

É impossível falar de inZOI sem mencionar The Sims. A franquia da EA revolucionou a indústria, definindo o gênero de simulação de vida e marcando gerações, inclusive a minha. Lembro-me de jogar The Sims até em celulares Java, onde criar casas de 8 bits era uma aventura. Mas, paradoxalmente, o que deveria ser o auge da série, The Sims 4, acabou sendo um declínio. O jogo, embora divertido e repleto de possibilidades, foi lançado em 2014 de forma “crua”, sem recursos básicos e altamente dependente de DLCs caras e superficiais. Hoje, adquirir a experiência “completa” de The Sims 4 custa mais de R$ 3 mil (e isso em promoção!), um modelo de monetização que afasta novos jogadores.

Enquanto a EA focava mais em maximizar lucros do que em ouvir sua comunidade, um vácuo no mercado se formou. Tentativas de preenchê-lo, como Life by You, fracassaram devido a ambições técnicas mal executadas e nunca chegaram a ver a luz do dia. E é nesse cenário que inZOI, desenvolvido pelo estúdio coreano KRAFTON, entra em cena. Apresentado como um “divisor de águas” no gênero, o jogo chega em acesso antecipado em 28 de março de 2025, por 40 dólares. A promessa? Todo conteúdo adicional lançado durante essa fase será gratuito, evitando que jogadores fiquem “para trás”. Mas a questão é: inZOI realmente entrega o que promete?

Roadmap de inZOI

Jogando inZOI: Uma Experiência Semelhante a The Sims?

Ao iniciar inZOI, as semelhanças com The Sims são inevitáveis. O jogo oferece um Estúdio de Personagens robusto, com mais de 250 opções de personalização que permitem ajustar não apenas a aparência física dos Zois (os personagens do jogo), mas também suas características mentais.

traço de personalidade em inZOI

Depois de criar seu Zoi, o jogo apresenta três cidades jogáveis: Dowon, uma metópole moderna inspirada na Coreia do Sul; Bliss Bay, uma cidade praiana nos moldes dos Estados Unidos; e Kucingku, que aparece como opção, mas ainda não está acessível.

Ao escolher uma cidade, o jogador recebe 50 mil unidades da moeda do jogo para adquirir um terreno. É nesse momento que conhecemos o modo de construção, similar ao de The Sims, permitindo a criação e personalização de casas e espaços. Há opção de casas prontas para quem quer pular essa etapa, e a IA generativa permite criar padrões exclusivos para roupas e móveis, adicionando uma camada extra à personalização.

A interação entre os Zois é um dos pilares do jogo. Eles desenvolvem relacionamentos baseados em três barras principais: amor, amizade e negócios. Cada interação influencia diretamente a dinâmica social dos personagens, tornando a experiência mais orgânica.

Os Zois também possuem objetivos de vida. Escolhi um personagem cujo objetivo era encontrar um amor, e o jogo começou a sugerir interações e eventos relacionados. Há rotinas como escola, faculdade e trabalho, embora, por ora, a escola apenas funcione como um período em que o personagem fica indisponível, com algumas escolhas eventuais. A ausência de mecanicas mais profundas nesse aspecto pode desapontar jogadores que esperam uma simulação mais detalhada.

Você pode ser quem você quiser se voce for heterossexual

O criador de personagens de inZOI impressiona pela diversidade, permitindo criar personagens não-binários, gays e lésbicas, ainda mais notável considerando as restrições culturais e legais da Coreia do Sul, onde o jogo foi desenvolvido. No entanto, essa inclusão se revela meramente cosmética assim que a gameplay começa.

Durante minhas sete horas de jogo, não encontrei nenhum NPC assumidamente LGBTQIA+, e todas as tentativas de interações românticas entre personagens do mesmo gênero resultaram em rejeição. Isso torna o sistema de identidade vazio, sem impacto real na experiência. Para contornar essa limitação, precisei recorrer a uma solução alternativa: criar um personagem masculino e marcá-lo como feminino, já que essa configuração não altera aparência nem roupas. É frustrante ver um jogo que se vende como inclusivo falhar justamente na vivência dentro do jogo.

Criador de personagem inZOI

Na sessão de perguntas e respostas que tive com os desenvolvedores, perguntei diretamente sobre a possibilidade de relacionamentos LGBTQIA+ e me garantiram que sim, citando a criação de personagens como exemplo. No entanto, na build pré-lançamento que joguei, isso simplesmente não se concretizou. Não há como ignorar essa discrepância, e espero que a equipe perceba esse problema e o corrija.

É importante considerar o contexto: a KRAFTON opera em um país com leis conservadoras em relação à comunidade LGBTQIA+, e a mídia local raramente aborda o tema abertamente. O fato de inZOI incluir opções de gênero e sexualidade já representa um avanço, mas isso não justifica uma implementação superficial. Se o jogo quer ser global, precisa ir além do simbolismo.

A ironia? Enquanto meus Zois heterossexuais formavam famílias e avançavam na carreira sem dificuldades, meus personagens queer viviam em um limbo narrativo. Nenhum evento especial, nenhum diálogo relevante, nenhum reconhecimento de sua identidade. A mensagem é clara: ser LGBTQIA+ em inZOI é ser invisível.

Gráficos e desempenho

Usando a Unreal Engine 5, inZOI entrega gráficos que fazem The Sims 4 parecer ultrapassado. Reflexos realistas em poças d’água, iluminação dinâmica que reage ao clima e expressões faciais detalhadas dos Zois (os habitantes do jogo) são de encher os olhos.

A personalização é outro ponto forte, oferecendo mais de 250 opções para ajustar corpos, rostos, roupas e até unhas decoradas. Além disso, a IA generativa permite transformar fotos 2D em móveis 3D — imagine reproduzir o sofá da sua sala dentro do jogo! E com suporte para impressão 3D, é possível criar objetos exclusivos para decorar casas e espaços públicos, adicionando um toque pessoal ao ambiente.

No entanto, o jogo sofre com desempenho. Mesmo rodando em um PC com RTX 4070 Super e 32 GB de RAM, enfrentei quedas de FPS constantes ao explorar cidades, especialmente em eventos climáticos ou áreas densamente povoadas. Apesar dos visuais impressionantes, a Unreal Engine 5 parece estar mal otimizada.

Outro problema é o campo de visão reduzido: conforme você caminha, objetos surgem abruptamente na tela à medida que o jogo os renderiza. Isso ocorreu mesmo com todas as configurações no ultra. A situação se agrava ao utilizar a visão em terceira pessoa, que permite controlar seu personagem como em um jogo tradicional. O que deveria trazer mais imersão acaba prejudicando a experiência, tornando a navegação pelo mundo menos fluida e envolvente.

Há Esperança?

inZOI não é um mau jogo. A personalização de mundos e a IA dos Zois são muito boas. Mas suas falhas gritantes, tanto técnicas quanto sociais, mancham a experiência. A otimização precária limita o acesso, e a representatividade mal executada frustra quem busca mais do que performative allyship.

A KRAFTON tem tempo para corrigir esses problemas antes do lançamento final, mas até lá, inZOI serve como um lembrete de que diversidade não deve ser apenas um checkbox em menus, mas algo integrado à alma do jogo.

Agradecemos aos amigos da Krafton por nos enviarem uma cópia de inZOI de PC para a criação deste artigo.

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