Depois de Baldur’s Gate 3, você vai se sentir limitado em qualquer outro jogo.
Uma das coisas que eu mais amo na indústria de games são suas reviravoltas, como estúdios surgem, se fundem, se reinventam e vão a falência quase o tempo todo, a parte de ir a falência eu não amo não hehe.
Digo isso pois é impossível pra mim falar de Baldur’s Gate 3, sem falar de seu estúdio a Larian Studios, um estúdio pequeno fundado em 1996 e que só teve relativo sucesso com seu primeiro RPG lançado em 2002, Divine Divinity, mas infelizmente as sequências não tiveram a mesma sorte.
E foi só em 2014, que a empresa juntamente com o apoio de fãs em uma campanha do Kickstarter, foram capazes de lançar um game incrível de RPG baseado em turnos chamado Divinity: Original Sin, que 4 anos mais tarde teve uma sequência chamada Divinity: Original Sin 2, muito maior, mais bonito e melhor, inclusive sendo indicado como melhor RPG no TGA de 2017, juntamente como vários outros prêmios e indicações, sem falar de ter vendido pouco mais de 7 milhões de unidades.
Ambos os jogos já mostravam as raízes do que iria um dia se tornar Baldur’s Gate 3.
A Historia de Baldur’s Gate 3
Mas chega de falar da empresa, vamos falar do jogo, começando pela história que é um de seus pontos fortes.
O jogo começa com o protagonista acordando em uma nave trans dimensional dos Devoradores de Mentes (uma criatura humanoide do universo de D & D), que estava atacando várias cidades e capturando seus residentes.
Os Devoradores de Mentes implantaram em seus capturados uma larva parasita, que se aloja no cérebro do hospedeiro e o transforma em um novo Devorador de Mente, mas por algum motivo o jogador não é transformado.
Ao andar pela nave, você encontra outros sobreviventes em situação parecida e a larva na cabeça de vocês permite que vocês se comuniquem mentalmente, por compartilhar tal problema vocês acabam formando uma parceria de emergência (ou não… vocês vão entender). O protagonista junto de seus aliados começam uma jornada para removerem suas larvas, pois tudo indica que caso não removam o destino de se transformarem em Devoradores de Mente é inevitável.
Mas aí em certo momento, você descobre que uma de suas aliadas possui um artefato, que dentro dele existe uma dimensão compacta que vive um ser que se intitula como Guardião, esse Guardião é o responsável por você não se transformar.
Esse Guardião, também diz que só você e seus aliados serão capazes de impedir que um antigo e poderoso mal ressurja e acabe com o mundo.
Baldur’s Gate 3 é um jogo riquíssimo em termos de história e o texto acima apenas pincela de maneira superficial o plot do jogo, pois qualquer coisa que eu diga além vai ser spoiler. Mas se o plot do jogo é interessante, acredito que eu também devo apresentar brevemente os seus aliados (ou não) pois eles são tão interessantes ou até mais que a história do jogo e cada um tem um arco a se desenvolver durante a campanha.
Umbralma: Uma elfa clériga, devota da deusa Shar, está em uma jornada para cumprir uma tarefa divina, mas suas próprias dúvidas e conflitos internos a atormentam. Sua história envolve descobrir sua verdadeira natureza e lutar contra as forças que a cercam.
Astarion: Um elfo vampiro que foi transformado contra sua vontade. Ele é charmoso, manipulador e um tanto arrogante. Sua história envolve explorar seu passado, sua relação com sua condição de vampiro e suas motivações pessoais.
Gale: Um mago poderoso que esconde um segredo sombrio. Ele está em uma busca desesperada para encontrar uma maneira de se livrar de uma terrível maldição que ameaça consumi-lo e todos a sua volta.
Lae’zel: Uma guerreira githyanki determinada e orgulhosa, cujo objetivo principal é recuperar uma relíquia importante de sua terra natal.
Wyll: Um guerreiro e um ex-cavaleiro de elite que busca vingança contra uma demônio que o enganou e o marcou com uma maldição.
Karlach: Uma tiefling e habilidosa guerreira, que foi vendida como escrava para uma arquidemônia com o objetivo lutar eternamente em uma guerra no inferno. Sua história envolve achar uma maneira de salvar sua própria vida como também confrontar aqueles que a venderam.
Além de alguns outros que você vai acabar encontrando e terá a opção de recruta-los ou não.
Como é jogar Baldur’s Gate 3
Se você conhece como funciona o sistema do RPG de mesa de Dungeons and Dragons, parabéns, você sabe 90% do gameplay de Baldur’s Gate 3.
Todo o jogo foi feito usando vários recursos do Divinity: Original Sin 1 e 2, como câmera isométrica, combate por turnos e a possibilidade de interagir com praticamente qualquer coisa no cenário.
Tais elementos caíram como uma luva para uma adaptação de Dungeons and Dragons. Liberdade é o ponto principal e se tem uma coisa que impressiona em Baldur’s Gate 3, é como ele não só te permite como te incentiva a ser criativo e fazer o menos óbvio. Desde a exploração, o combate ou mesmo a forma como você aborda missões.
Para explicar melhor, vou usar exemplos que aconteceram no meu gameplay ou ouvi de amigos que jogaram. Suponhamos que você precisa entrar em um quarto e a porta está trancada, em 90% dos jogos você precisaria encontrar a chave, aqui você pode encontrar a chave ou você pode arrombar a fechadura!
Encontrou um buraco na parede?
Que tal entrar por ele?
É muito pequeno?
Manda o hobbit do seu grupo entrar nele.
Ainda é pequeno?
Fala pro druida se transformar em rato ou pede a maga do time para transformar você em um rato.
Às vezes seu time tem um bárbaro, nesses casos basta um bom machado que a porta vira pó!
São inúmeras situações que você se depara com diversas maneiras de resolver.
Tal liberdade também é percebida no desenrolar das missões, imagina que você precisa de um item importante e um brutamontes esta protegendo esse item, sua cabeça de “gamer” vai dizer “mata ele”, mas em Baldur’s Gate 3, você tem a possibilidade de conversar com praticamente qualquer personagem.
Então que tal ao invés de matar esse personagem, tentar suborna-lo?
Ou ameaça-lo?
Ou ainda convence-lo de que você é o verdadeiro dono do objeto que ele está guardando!
Em várias situações sua língua vai ser mais afiada que uma espada meu querido amigo e amiga.
O combate é satisfatório e sei que para muitos saber que o jogo é de turnos pode ser um ponto para automaticamente desconsiderar o título, mas eu digo pra você dar uma chance.
Pois apesar de ser de turnos, Baldur’s Gate 3 possui diversos elementos que mantêm o combate constantemente dinâmico. A estratégia é o ponto chave aqui, mesmo inimigos muito mais fortes podem ser vencidos com um time bem afiado. E tudo vai depender da estratégia que está ligada à liberdade que citei anteriormente, que também aparece no combate.
Você não precisa enfrentar seus inimigos frente a frente, que tal encher o lugar de armadilhas, jogar gelo no chão para eles escorregarem, arremessar bombas dos mais variados efeitos, transformar o chefe em uma galinha ou se esconder nas sombras apunhalando o chefe pelas costas sempre que ele focar em outro aliado? Aqui você pode.
Tudo vai depender de como você montou seu personagem e como ele vai interagir com os seus aliados.
Esse ponto quero conectar com o próximo item do meu review: A sua individualidade faz toda a diferença.
É óbvio que toda essa liberdade precisa vir com algum desafio ou limitação, se não o jogo seria chato de tão fácil e é aí que entra as individualidades do seu personagem.
Seu personagem, seja o que você criou ou os prefeitos do jogo, possuem diversas características como raça, classe, proficiências, atributos e equipamentos que mudam drasticamente a forma como eles lidam com o mundo ao seu redor.
O meu personagem principal era um Draconato (uma espécie de homem dragão) da classe Bárbaro, meus atributos eram todos focados em força, constituição e carisma.
Em termos de gameplay, significava que eu tinha capacidades relacionadas com força física e resistência aumentados, eu era o brutamonte do meu time, quebrava portas, peitava outros semelhantes a mim e os pontinhos em carisma junto dos pontos em força me permitia resolver vários conflitos no diálogo mesmo que na base da ameaça e intimidação.
Em contrapartida a falta de pontos em inteligência e sabedoria, me faziam ser péssimo em decifrar enigmas ou resolver qualquer conflito que não pudesse ser resolvido na base do soco ou do grito.
No combate eu fiz algo bem incomum, os altos pontos em força obviamente me faziam causar mais dano nos meus ataques, mas eu descobri que quanto mais forte mais fácil era carregar e arremessar objetos por que não também pessoas.
Logo passei a focar meu personagem completamente em arremesso, eu basicamente pegava um inimigo e mandava no outro, mandava em buraco, mandava em fogo e quando não podia arremessar o inimigo eu arremessava qualquer coisa nele.
Em contrapartida, minha esposa (eu joguei em coop) fez uma maga, totalmente focada em inteligência, capaz de resolver diversos problemas mais intelectuais e que envolvessem magia ou tecnologia. E é aí outro ponto fantástico de Baldur’s Gate 3, a individualidade faz toda a diferença e ter um time diverso em muitos casos vai ser a chave para o sucesso, dentro e fora dos combates.
Você está pronto para as consequências? Sim, Baldur’s Gate 3 brilha na exploração e no combate, mas não podemos deixar de falar do brilho de sua história e como ela integra o jogador e suas escolhas.
Por isso em alguns pontos acima eu disse “dá pra fazer tal coisa, ou não” pois em diversos momentos você será confrontado por situações que dependendo das suas escolhas, o jogo poderá seguir de maneiras drasticamente diferentes para você e para os outros personagens.
Desde quais personagens se tornaram seus aliados, quais permanecerão seus aliados até mesmo se você vai se aliar aos vilões do jogo. Aqui você pode ser o vilão se você quiser e o jogo vai sustentar essa escolha.
Vários outros rpgs eletrônicos fazem isso, como Fallout, The Elder Scrolls e até mesmo Dragon Age, mas dificilmente no mesmo nível de profundidade.
Você já rolou um D20? Um elemento chave da maioria dos jogos de RPG sejam de mesa ou eletrônicos é possuir algum mecanismo de aleatoriedade e aqui não é diferente. Mas Baldur’s Gate 3 adota o elemento como apresentado em sua mídia de origem, o dado de vinte faces.
Se em RPGs como Fallout você tem uma certa porcentagem de sucesso fazendo alguma atividade dependendo do quão alta sua habilidade é naquela atividade, em Baldur’s Gate 3 essa porcentagem de sucesso é representado pela CD ou classe de dificuldade.
Imagina que uma porta está trancada, mas você pode tentar arrombar ela com um lockpick, a Classe de Dificuldade dessa fechadura pode ser 10 ai você rola um dado de 20 faces e caso atinja ou ultrapasse 10 no dado você obtém sucesso e abre a fechadura. Mas caso você tenha pontos altos em destreza, pode somar +2, se for ladino +2, se tiver com a ferramenta certa +2, então caso você role esse mesmo dado e tire 4, o jogo vai somar esses bônus dando um resultado de 10.
Isso vale para absolutamente tudo no jogo, desde abrir uma porta trancada, derrubar um inimigo com rasteira, convencer um guarda aceitar suborno ou mesmo se livrar de uma armadilha.
Algo interessante é que mesmo se a CD for 99, caso o dado caia em 20 você obtém sucesso e mesmo se a CD for 2, se o dado cair 1 você falha independente dos bônus.
Esse fator de aleatoriedade vai render momentos bizarramente hilários, como um personagem super forte deixar sua arma cair no meio da batalha ou um personagem super burro passar no teste intelectual mais incrível do mundo.
Nem tudo é perfeito e apesar de ser um jogo incrível, Baldur’s Gate 3 não está livre de falhas. Sua câmera muitas vezes fica perdida e não sabe o que fazer, principalmente em cenários com 2 andares ou mais, muitas vezes você vai estar no andar de baixo e a câmera vai ficar no andar de cima.
O jogo possui alguns poucos bugs que acontecem de forma bem rara, como armas sumindo do chão, personagem entrando em paredes, áreas de efeitos de magias e bombas não mostrando corretamente o que vai ser atingido de verdade. Coisas bobas que nada atrapalham.
Mas infelizmente, em minhas 160 horas de jogo me deparei com 3 bugs bem problemáticos. Dois foram basicamente iguais, NPCs que não iam para o lugar correto depois de um diálogo, impedindo que suas quests se completassem, em ambas as situações precisei de fazer malabarismos para que eles fossem seus lugares, como reiniciar o jogo, viajar para outras regiões, matar um outro npc, etc.
Já o terceiro bug problemático foi o sumiço de um item importante, onde em um determinado momento você recebe uma arma chamada “Martelo Órfico”, ele é crucial em uma missão secundária e na última missão principal. Esse martelo sumiu do meu inventário em algum momento me impedindo de concluir a missão secundária, mas aí vem o ponto estranho. Para chegar na ultima missão principal, você entra num barco que é um ponto sem retorno, como vários jogos tem, depois de entrar no barco o jogo todo muda e a missão final começa te impedindo de retornar, o ponto estranho é que depois de você descer do barco um NPC te entregar esse martelo e diz “você perdeu o Martelo, devia tomar mais cuidado”, bastava botar esse npc antes do ponto sem retorno.
Baldur’s Gate 3 Vale a pena?
Apesar de alguns problemas Baldur’s Gate 3 é um jogo sensacional, definitivamente um dos melhores se não o melhor rpg que joguei na vida e a melhor experiência coop de rpg que joguei (sem exagero).
Tudo no jogo é feito com profundidade e a individualidade criativa do jogador é valorizada.
Não vou ser um presunçoso e dizer que é um jogo pra qualquer um e que todo mundo vai amar. Ser de turno, com combate estratégico ou mesmo voltado para narrativa, podem ser elementos que vão afastar alguns jogadores. Mas mesmo se você acha que não vai gostar devido a esses elementos, eu sugiro dar uma chance.
Indicado para: Quem curte RPG de mesa, rpg de turno, jogos estratégicos e com grande foco em narrativa.
Com o que se parece: Divinity original Sin 1 e 2 Pathfinder kingmaker e Wrath Of The Righteous Pillars of eternity 1 e 2 Wasteland 3
Parece que é, mas não é: The elder Scroll Oblivion e Skyrim Dragon Age Diablo 2, 3 e 4
Nota: Você vai entrar em depressão quando acabar/10 9.7
Baldur´s Gate 3 está disponível para PCs, PlayStation 5 e Xbox Series.