Lançado originalmente para Playstation 3, Like a Dragon Ishin! é um jogo que talvez caiba aquela dúvida se é mesmo necessário um remake de um jogo que não tenha nem 10 anos de vida. E neste caso sim era necessario.
Lançado em 2014 como um spin off da série Yakuza, famosa por se passar em nosso periodo contemporâneo, Ishin escolheu o fim da era dos Samurais na segunda metade dos anos 1800 como cenário histórico a ser explorado.
Embora a série Yakuza, que hoje assumiu seu nome japonês como marca oficial adotando o Like a Dragon para todos seus títulos, seja uma franquia de sucesso da SEGA, confesso que nunca havia tido nenhum contato nem sequer sabia o que esperar do título em questão.
Por isso todas as impressões que tenho deste jogo e trago neste review são novidades para mim sem saber dizer se o mesmo acontece em outros jogos da série.
A história de Like a Dragon Ishin!
Acompanhamos a história de Sakamoto Ryoma que acaba de voltar a cidade de Tosa onde reencontra seu irmão e seu pai, ambos sem laços sanguíneos e sim de criação.
O pai de Ryoma é influente dentro do governo Japonês, no entanto desconhecem a ligação que ele tem com seus dois filhos de criação assim como não suspeitam do golpe que ele está tramando.
Após um ataque surpresa e ver seu pai sendo morto, Ryoma é acusado de ser o responsável pelo assassinato e assim devemos fugir de Tosa.
Neste momento a história ira tomar novos rumos e vivendo uma nova vida ainda ligada ao seu passado, Sakamoto Ryoma tentará de todas as formas descobrir quem é o assassino de seu pai.
A única pista no entanto é que o assassino mascarado utiliza uma técnica de luta que apenas os integrantes do grupo Shinsengumi dominam, desta forma o protagonista decide então entrar para este grupo para que de dentro dele seja capaz de descobrir quem matou e quais motivos levaram ao assassinato de seu pai.
Um ponto interessante a se tocar sobre a história de Like a Dragon Ishin! é de que como ele foi um jogo originalmente focado apenas para o publico japonês, existem diversos nomes de cidades, personagens entre outras coisas que não fazem parte da nossa cultura ou dia a dia.
Para isso o game conta com um sistema de glossário, e toda vez que uma palavra, nome ou termo especifico que o game considera de desconhecimento comum para aqueles que não sejam japoneses é possível apertar um botão que fará uma pausa na cena para explicar o que é aquele item especifico.
Uma novela mexicana no japão
Sim, como previsto no resumo da história Like a Dragon Ishin! tem todos os clichês possíveis de uma história que envolva samurais e a busca por vingança.
Em certo ponto a história chega a ser muito semelhante às melhores histórias e enrolações que uma boa novela mexicana poderia contar e digo isso como um elogio e não uma crítica negativa.
Like a Dragon Ishin! é deliciosamente clichê e em diversos momentos beira até mesmo o brega em diversas partes de sua história, personagens e até mesmo estética.
Confesso que já estava tão envolvido na trama e na maneira despretensiosa que essa história estava sendo contada que se apresentassem um samurai chamado Carlos Daniel eu compraria fácil esse personagem.
O game consegue misturar momentos impares, onde ele não se leva a sério e outros onde busca emocionar quem está no controle e consegue este sentimento.
Por mais que os personagens tragam características clichês como o durão, o descontrolado, o calculista Like a Dragon Ishin! nos entrega um elenco de muito valor no qual aprendemos a entender a motivação de cada um que circula a vida de Sakamoto Ryoma e até mesmo aqueles com os quais vamos nos importar, rejeitar e até ser indiferentes.
A estética do jogo visualmente e suas cenas também nos lembram clássicos filmes de samurai e as falas dos personagens, todas em Japonês sem opção de alteração, trazem ainda mais essa sensação de uma grande novela com longos discursos sobre honra, vingança e justiça.
Como é jogar Like a Dragon Ishin?
Like a Dragon Ishin! mescla dois estilos de jogo nos entregando algo que lembra um pouco um briga de rua com aspectos de RPG.
Como Ryoma está em busca de descobrir o culpado e motivo da morte de seu pai você deve andar pelas ruas de Kyo livremente tentando descobrir pistas, conhecendo a população para que assim o jogo avance.
Neste começo de jogo, confesso que fiquei meio confuso pois não existem informações do que fazer.
Como acabamos de chegar na cidade e não conhecemos ninguém, não existem pontos de interesse no mapa, locais ou npcs em destaque que devemos ir de imediato.
Você deve bater perna pelas ruas da cidade até que algum evento se inicie e assim comece algo de interessante, seja ela uma missão secundária ou principal sem que tenhamos escolhas neste momento.
São estes momentos em que você sente o jogo progredindo naturalmente.
Como em um bom RPG onde as batalhas são iniciadas de forma aleatória ao andarmos nas ruas podemos ser desafiados por bandidos, vagabundos ou outros guerreiros para uma batalha.
Em alguns momentos se continuarmos andando a batalha não irá começar mesmo que os inimigos te sigam por alguns segundos, no entanto outras vezes será impossível fugir.
Da mesma forma também podemos desafiar os inimigos quando encontramos um bando atormentando pessoas indefesas por exemplo e desafiamos para que estes parem com seus crimes.
As batalhas são fundamentais para ganharmos experiências e itens, fundamentais para a progressão do jogo.
No sistema da luta Ryoma conta com 4 estilos diferentes sendo bem distintos entre si e deixando as batalhas dinâmicas e estratégicas.
Os modos de luta são Brawler, Gunner, Swordman e Wild Dancer.
Brawler traz lutas a mão livre utilizando socos, chutes e agarrões, Swordsman é o estilo samurai mais puro utilizando katanas para atacar e se defender, Gunman utiliza revólveres para atacar a distância os inimigos utilizando munição infinita para ataques fracos e rápidos e munições com efeitos e status negativos contra os inimigos utilizando um golpe mais forte e Wild Dancer que mistura ataques de espada e armas de fogo sendo o estilo mais rápido do jogo trazendo uma movimentação ágil de esquiva porém não permitindo usar a defesa do jogo.
Cada estilo tem sua própria árvore de evolução o que obriga o jogador a utilizar todos os modelos para assim evoluir melhor seu personagem.
Para evoluir nesta árvore será necessário utilizar orbs que ganhamos quando subimos de nível naturalmente com pontos de experiência e também é possível ganhar orbs específicos de cada estilo conforme utilizamos eles em momentos chaves do jogo ou fazemos algo único.
Ainda dentro da árvore de evolução existem alguns slots com cadeados, estes são liberados quando treinamos nos dojos espalhados pela cidade.
Para cada um dos 4 estilos existe um dojo diferente que abre de acordo com sidequests que encontramos aleatoriamente pelas caminhadas pela cidade e também não é possível fazer todas as lições e treinos de uma só vez.
Dentro dos Shinsegumis, Ryoma também terá acesso aos soldados que poderão te auxiliar nas batalhas.
Porém estes se resumem a poderes em forma de deck que você monta e equipa em cada um dos 4 estilos.
Estes soldados podem ser recrutados a partir de inimigos derrotados que ao serem vencidos pedem para te servir ou em um mini game de exploração de dungeons em formato de mini missões.
Para cada estilo de luta, 3 cartas ficam dispostas podendo ser ativadas sozinhas ou ao comando do jogador dependendo de sua característica.
Os poderes podem variar como melhorias de força e defesa, regeneração de HP, ataques mágicos, ataques para atordoar os inimigos do mapa e por ai vai.
Cada soldado também conta com pontos de experiência próprio subindo de nível e ficando mais forte quando você utilizar a carta mais vezes.
Para evoluir neste sentido é necessário paciência e voltar de tempos em tempos e nos momentos certos para que assim possamos desbloquear um dos cadeados.
Outro ponto forte de evolução no jogo que devemos ficar atentos é a virtude.
Tudo que fazemos nos dão pontos de virtude, seja ajudar alguém, vencer uma batalha, realizar uma missão, rezar em um templo, enfim, tudo será recompensado com pontos de virtude.
Além destes afazeres corriqueiros também existem missões especificas que darão um bônus a estes pontos de virtude. Por exemplo ao rezarmos ganhamos 20 pontos de virtude, no entanto se fizermos a missão que pede para rezarmos 20 vezes em santuários diferentes, iremos ganhar um bônus de virtude e uma missão será riscada de nosso quadro ao completarmos os desafio.
Estes pontos de virtude são fundamentais para habilitar algumas melhorias de Ryoma como ele poder correr por mais tempo sem ficar fadigado, libera itens novos nas lojas, aumenta quantidade de experiência recebida e poderá se expandir de possibilidades conforme progredimos no jogo.
Uma cidade cheia de possibilidades
Não imaginei que seriam tantas missões ao jogar Like a Dragon Ishin!, no entanto a cada esquina ou encontro uma nova missão poderia surgir.
Para se ter uma ideia, eu terminei o jogo fazendo as missões principais e uma série de secundarias que surgiam pelo caminho e eu resolvia fazer. Terminei o game com 35h de jogo e mesmo assim na tela final fui informado de que realizei apenas 11% do jogo.
Cabe ao jogador resolver se deseja fazer apenas as missões principais que já são extensas pelos 14 capítulos que fazem parte do jogo ou se irá realizar também as secundárias.
No meu ponto de vista, ignorar as secundárias seria um pecado e são tantas missões e a maioria totalmente fora da linha que faz a trama principal acontecer que você poderá fazer até mesmo após o termino do jogo.
Todos os personagens que encontramos são carismáticos e de certo modo chamativos e por isso é muito difícil dizer não a uma sidequest em Like a Dragon Ishin! Vale ressaltar que na maioria das vezes essas missões secundárias são simples e rápidas também.
A cidade embora não seja muito grande como títulos mais atuais de jogos de mundo aberto, é um cenário vivo e intenso. Contando com diversas lojas, restaurantes e bares.
Ao frequentar um destes estabelecimentos Ryoma poderá começar a criar vínculos com estes personagens aumentando assim seu relacionamento podendo liberar novos itens para compra, descontos entre outras coisas.
Também é possível ir a estabelecimentos de entretenimento como a casa de banho, o salão de danças e o karaokê, meu favorito e que só fui descobrir sua existência com mais de 20h de jogo, para se ter ideia da quantidade de coisas que você ira explorar para a cidade e poderá simplesmente desconhecer.
Além dos estilos de luta já citados também é possível comprar ou ganhar novas armas e equipamentos.
Novas armas podem ser adquiridas derrotando chefes ou inimigos mais poderosos mas também é possível adquirir itens e dar um pulo no ferreiro para que ele possa construir espadas melhores para Ryoma.
Além de tudo isso já citado Like a Dragon Ishin! ainda conta com um sistema de “fazendinha” após Ryoma adquirir sua casa própria em um determinado momento do jogo.
A partir deste momento o jogador poderá plantar, colher, cozinhar e vender tudo que for produzido nas propriedades do samurai.
Com pontos de virtude é possível fazer dezenas de melhorias em sua casa, desde melhorias da cozinha, aumentar a quantidade de espaços para plantar, novas verduras e vegetais a serem plantados e até mesmo o visual interno da casa.
O jogo conta com um divertido mini-game onde devemos cozinhar diversos pratos a partir do que colhemos e compramos no mercado, como peixes por exemplo.
Para cada tipo de prato o mini game será diferente podendo conter algumas fases e de acordo com o sucesso mudar a qualidade do prato final.
Os pratos produzidos poderão ser consumidos para recuperar HP, melhorar status ou até mesmo ser vendidos para fazer dinheiro e assim gastar nas diversas opções espalhadas pela cidade.
Estes são algumas das possibilidades do que se fazer no jogo, não falei nada sobre a pescaria e pode ser que tenha algo que eu sequer tenha encontrado.
Mas o mais importante a se dizer é que todas estas possibilidades de missões, mini-games e tantas outras coisas não são em vão, tudo irá gerar um recompensa para o jogador além de não serem cansativas e originais.
Like a Dragon Ishin! vale a pena?
Acho que com tudo que escrevi até este ponto não é necessário falar o quanto me encantei pelo jogo.
Talvez por nunca ter jogado nada da série e também ter ligado o jogo sem a menor expectativa ele tenha me surpreendido tanto. Até mesmo a um nível onde hoje jogar os games da franquia Yakuza agora são uma prioridade para mim.
Apenas como um ponto negativo a se citar a quem interessa jogar o título, ele contem horas e horas de diálogos, seja em cenas do jogo ou conversas com NPC. Assim como no jogo original de 2014 que era exclusivo para o mercado asiático todas as falas estão em japonês o que traz uma ótima imersão porém os textos estão todos em inglês.
O game Yakuza Like a Dragon quando foi lançado também contava apenas com legendas em inglês e alguns meses depois ganhou legendar para nossa lingua.
Sendo assim espero que em breve este título também ganhe legendas para o público brasileiro pois ficar limitado a língua inglesa e com tanto texto para ler, pode cansar um pouco aqueles que não estão acostumados com o idioma.
Tirando este detalhe, Like a Dragon Ishin! é um dos grandes lançamentos do começo de 2023 e mesmo sendo um remake pode se considerar inédito já que o original nunca chegou oficialmente por aqui e vale muito a pena ser jogado.
Agradecemos a equipe da SEGA que nos enviou uma cópia do game para análise e criação deste review.