Em 2013 quando The Last of Us deu as caras como um jogo para Playstation 3 parecia ser apenas mais um game de sobrevivência, ação, zumbis, tiros e correria.
E de fato para muitos ele realmente pode ser apenas isso.
No entanto, para aqueles que sabem que um bom jogo é muito mais que ficar atirando por ai e decidem gastar o mínimo de seu cérebro e entender a história e a profundidade de cada personagem, suas escolhas e até a falta delas percebe que The Last of Us é uma história de pessoas que sobrevivem indo de desgraça a desgraça.
Uma série de desventuras que só nos mostra que em nada na vida teremos controle e que o acaso e a sorte é o que nos faria continuar vivendo neste mundo apocalíptico.
Embora eu goste bastante dos jogos, não sou uma entre tantas pessoas que consideram ele o melhor jogo de suas vidas e nem sequer de sua geração.
Reconheço toda a qualidade incrível dele como jogo e até mesmo como enredo mas não tenho todo este apego com o primeiro jogo.
Mas é impossível não reconhecer que ter uma boa história para contar é o que faz de The Last of Us um verdadeiro marco para a indústria dos games.
Para aqueles que jogaram pela primeira vez e não ficaram impactados com a morte de Sara nos braços de Joel já nos primeiros minutos de tela e com uma narrativa tão bem construída apenas para uma introdução eu realmente sinto muito por vocês serem pessoas assim tão frias.
Este começo forte só nos mostra que The Last of Us é muito mais que uma história de zumbis e sim uma história de sobreviver em um mundo de merda e contar com sorte e acaso.
Agora, dando uma pausa em 2013 e voltando alguns anos para o meu passado particular, em 1995 o jovem Danilo estava empolgado para assistir a um filme baseado em um jogo do qual eu realmente me importava e consumia.
Street Fighter trazia em seu elenco Jean Claude Van Dame, astro do qual assistia diversos filmes de pancadaria fazendo mais um filme de um jogo onde tudo que se era necessário fazer era ser bom em pancadaria.
Nada poderia dar errado não é mesmo?
Esta experiência tão frustrante e que me fez até passar vergonha por estar assistindo aquilo em família criou casca em uma criança no alto de seus 12 anos e me fez entender que não deveria esperar muito de filmes baseados em jogos.
Na mesma época acabei assistindo outros filmes como Super Mario Bros, Double Dragon, Mortal Kombat e percebi que nada do que era feito sequer parecia com os joguinhos que eu tanto amava passar a tarde jogando depois da escola.
Ai você pode me perguntar.
Jogo de luta precisa de história?
Podemos até questionar que estas obras apontadas, ainda mais por serem de uma época onde tudo era tão limitado, sequer tinham foco em suas histórias nos próprios jogos, quem diria então no cinema.
Resident Evil, foi um dos primeiros jogos com narrativa que tive contato, inclusive acabou sendo um dos responsáveis pelo meu desejo de comprar um Playstation no lugar de um Nintendo 64.
Uma história de terror, ação, zumbis e tiros tudo ali já parecia um filme, assim empacotar tudo que já havia sido feito e levar para as telinhas não parecia ser algo que daria errado, afinal os roteiristas, cenógrafos e diretor já tinham tudo mastigado.
Mas a ânsia por tentar fazer algo diferente mais uma vez se transformou naquilo que já assistimos.
E olha que estou falando de Resident Evil que arrisco afirmar ter sido a franquia de maior sucesso que saiu dos jogos e foi para outras midias.
Assim, este que vos escreve nunca teve motivos reais para gostar ou sentir alguma empolgação sobre conteúdos de videogame que migravam para outras mídias.
Todo esse meu chororô a parte, enfim chegamos em 2023 onde finalmente tivemos a série de The Last of Us pela HBO.
Diferente de outras produções, esta foi uma série que eu me sentia de certa forma seguro em acreditar que boa coisa viria dali.
Um bom elenco, profissionais que fizeram parte do jogo, incluindo o criador Neil Druckmann estavam ligados a produção e Craig Mazin da excelente mini-serie Chernobyl também era um nome forte para o time.
Como disse anteriormente, ter uma ótima história a ser contada é o principal, o jogo já possui isso portanto bastava o time focar nisso que tudo daria certo.
Não era necessário colocar astros dando voadoras, chutando cachorro ou dando soco em tubarões para mostrar o quão incríveis eles são.
Precisávamos apenas de uma boa história sendo contada no final de nossos domingos.
Por isso, da mesma forma que The Last of Us tem uma importância gigante para o mundo dos games, mostrando que uma ótima narrativa pode fazer até mesmo um jogo onde a premissa pareça ser apenas uma história de ação e zumbis, pode ser algo muito maior e com força suficiente para nos entregar um entretenimento cheio de momentos antagônicos e reflexivos.
A série consegue quebrar uma barreira neste quase TABU onde conteúdos baseados em jogos eram retratados de forma boba e desrespeitosa com a obra original nos entregando uma série que respeita tudo que os fãs já conheciam e ao mesmo tempo traz um conteúdo riquíssimo para aqueles que estão tendo o primeiro contato com o universo entendam e criem laços afetivos com a história.
Sem medo de errar, sem medo das críticas, sem medo de apostar em mudar.
Os produtores entenderam que são mídias diferentes onde acontecimentos devem ser contados de outras formas, detalhes devem ser alterados e até mesmo o tempo deve ser diferente.
A série tem sim seus defeitos, mas não pesam quando colocamos na balança com todos os acertos nas escolhas de cada episódio.
Pedro Pascal e Bella Ramsey foram um grande trunfo para o sucesso da série, embora eu acredito que a rapidez com que a série acabou tendo que tomar não tenha criado todo este laço que nós que jogamos o game conhecemos.
Mas individualmente ambos foram fantásticos em seu papéis nos entregando perfeitamente estes personagens que amamos.
The Last of Us é uma história sobre pessoas e foi interessante acompanhar todas essas pessoas nestes últimos 9 domingos até mesmo para quem já conhecia seu desfecho.
Espero que assim como o jogo de 2013 teve sua importância para os games e acabou ajudando a abrir portas para que outros jogos explorassem ainda mais suas histórias, enredos e personagens, a serie de 2023 carregue a importância de ter sido a primeira obra a realmente respeitar e mostrar que jogos tem sim conteúdos incríveis que em outras mídias quando respeitados fazem esta mensagem alcançar mais e mais pessoas.
Afinal o que somos nós neste mundo, sem boas histórias para contar e conhecer?