Cronos: The New Dawn é mais uma tentativa de jogo Survival Horror do pessoal da Bloober Team. Figurinhas carimbadas por trabalhos como The Medium e mais recentemente Silent Hill 2 remake.
E aqui vemos então, um estúdio que já tem em sua bagagem jogos desse gênero, se aprofundarem em um universo totalmente novo para criação de uma nova IP para os amantes de jogos de terror. E como um todo a equipe entrega um bom trabalho, mas com ressalvas.

No geral Cronos é um belo ‘arroz com feijão’, o mais óbvio e rápido aqui seria dizer que o jogo se parece demais com suas inspirações, uma boa mistura de Resident Evil e Dead Space mas que infelizmente se perde no caminho quando tenta fazer algo por conta própria. Então vamos por partes.
O começo da experiência!
Acredito que explicar Cronos: The New Dawn seja mais fácil se for feito um relato do início do game antes de mais nada.

Começamos nossa aventura na pele da ND-3756, sim, o jogo deixa bem claro que a personalidade e até mesmo aparência da nossa personagem não é importante, sendo assim, pelo resto da nossa aventura seremos apenas nós contra hordas de monstros e poucas ou quase nenhuma explicação do mundo ao nosso redor.
ND-3756 é uma tela em branco ideal para a narrativa pouco aprofundada aqui, pois como fomos despertadas nesse planeta/realidade e não temos nenhuma motivação única fora nossas ordens, o jogo deixa claro que devemos apenas viver para cumprir nossas ordens, sem se importar em nos explicar motivos, razão ou planos.
De fato, a proposta se encontra no final da experiência, mas a alegoria nesse sentido fica forçada já que deixa inúmeros momentos carentes de uma motivação para nós jogadores e não apenas uma desculpa da narrativa.
É um problema a história não explicar tudo?
A maneira como Cronos tenta nos deixar engajados para continuar jogando o título bate de encontro constantemente com a plot final e suas ‘motivações’ ou a falta delas.
Nesse sentido não posso medir palavras aqui, o jogo até por volta das 4 – 6 horas será uma experiência de andar, matar monstros e apreciar a bela atmosfera. Nada de muito absurdo é feito e em questões de gameplay o jogo se manteve bem sólido do início ao fim.

Mas com o tempo cada vez mais escasso para experimentar novas IP e com tantos exemplos tão próximos ao de Cronos, como a equipe fez para que nós os jogadores pudessem se sentir motivados a passar dessas 5 horas iniciais? Eles não fazem.
Esse é o grande defeito de todo o game, essa cobrança da ‘fé’ que depois de algumas horas o enredo vai fazer um pouco mais de sentido, depois de algumas horas algumas dúvidas vão ser de fato respondidas, mas sempre voltando a responsabilidade para a curiosidade do jogador.
Cada área que vamos explorar tem documentos, fonte de informação que como venho falando é pouca na narrativa, podemos nos sentir quase como um bebê recém nascido, tudo é muito novo e único mas com a diferença é que não temos nada nem ninguém por um bom momento do jogo para nos explicar o básico desse mundo.
E qual mundo é esse?
Estamos na então Polônia ocupada pela forte influência da antiga URSS (1939 – 1989), mas a diferença gritante aqui é a falta de pessoas nesse mundo e também é claro, algumas anomalias gravitacionais espalhadas pelos locais que exploramos.
Com documentos podemos ver que muitos dos acontecimentos que geram nossa urgência, tem relação a um acidente que aconteceu nos anos 80 em uma metalúrgica.
Metalurgica essa que devemos explorar em condições pré acidente e pós acidente, sim, o jogo também mistura viagem no tempo eu sua narrativa!

Por partes nem tento entender que não existe obrigatoriedade de obras nos explicarem tudo, mas deixar a narrativa sem esse fio condutor de acontecimentos, vontades e motivações, em uma história tão mirabolante, dificulta muito para engajar o jogo.
Se por um lado temos uma realidade mais difícil de engajar, por outro temos um risco real e imediato com a atmosfera e os inimigos do jogo. Encontramos com nossos inimigos e suas variações de forma constante e até mesmo amedrontadora logo cedo no game.
Esses inimigos são a base de qualquer monstrengo metamorfo de outros jogos de terror, uma clara inspiração aqui aos monstros meio humanoides deformados que encontramos em Dead Space. Uma mistura nojenta e repugnante de carne e violência.
Algo bem feito desde os momentos iniciais são esses confrontos, por mais que os inimigos possam parecer pouco originais, eles tem suas variações que satisfazem o desejo de novidade no combate. Atrelado a isso também devemos pensar em formas únicas para lidar com cada tipo de inimigo, já que no jogo temos um sistema de mutação, onde se um inimigo ‘consumir’ outro já derrotado, ele vai ficar mais forte, mais resistente e com pontos fracos limitados para seus tiros.
Gameplay e seus momentos de brilho!
A gameplay de fato é um ponto forte, mas como jogadores ficamos em dúvida, será que gostamos mesmo do combate pelas competências reais do jogo ou apenas comparamos ela ao restante mediano?
Durante nossas horas de jogatinas iremos nos deparar com melhorias em nossa armadura, armas e itens de combate. Novamente as inspirações aos seus dois maiores nomes (Resident Evil e Dead Space) desse gênero fica muito aparente.

Durante nossa campanha vamos desbloquear acesso a ferramentas tecnológicas muito além das conhecidas pelos humanos em 1980. Ferramentas essas que tem um uso para combates e puzzle e novamente aqui o jogo nos faz questão de lembrar que suas melhores implementações são oriundas de outros games.
Vale a zerada? Mais dúvidas? Alguma coisa é respondida?!
Enquanto zerava, minha maior angústia era com relação ao terceiro ato do game. Temos aqui um título muito sólido, com boas ideias e com uma gameplay e tensão muito bem alcançados, mas com uma narrativa que entrega tão pouco e de forma tão espaçada que sentia um medo genuíno sobre o final do jogo ser insatisfatório.
Já terminado o game posso acalmar novos jogadores e dizer que sim, o título amarra algumas pontas, tenta deixar o história com uma motivação e uma ordem nos acontecimento, claro que nem todas as dúvidas são respondidas mas é de se imaginar tendo em vista premissa e a alegoria montada.

Uma obra que deixa a desejar ainda mais para amantes e conhecedores de história, já que com um breve contexto e sobre a relação entre Polônia e URSS, podemos prever com certa facilidade qual o desfecho e quais as alegorias estéticas para os ‘vilões’ desse game.
Um conjunto bonito, com boas funções e com uma atmosfera caprichada, mas que se embanana ao tentar dar sua cara mais autoral para a obra completa.
Agradecemos os amigos da Bloober Team que nos enviaram uma cópia de Cronos: The New Dawn de PlayStation 5 para a criação deste review.