Diversos jogos trazendo o estilo Metroidvania são lançados durante o ano, já que este é um gênero no qual os desenvolvedores Independentes acabam se apoiando bastante e este caso não é diferente em Mars 2120.
Porém com a quantidade de lançamentos o que acaba surgindo são diversos títulos que mesmo se apoiando em um gênero tão conhecido falham em alguns aspectos e no final o que temos é sempre um jogo de plataforma simples com um ou outro detalhe que pode lembrar um metroidvania.
Digo isso pois todo ano acabo jogando pelo menos uns 3 ou 4 jogos assim.
Mas em MARS 2120 eu senti uma certa dualidade no que estava achando do game enquanto jogava sua campanha mas no geral a experiência foi bem positiva.
Importante dizer também que minhas expectativas para o jogo estavam altas desde que o jogo foi apresentado e não quis jogar nada dele durante o seu acesso antecipado para ter a experiência completa no jogo finalizado em seu lançamento.
Um dos principais destaques de MARS 2120, se comparado a outros é sem dúvida alguma seu visual. Os desenvolvedores optaram por trabalhar com gráficos 2.5D, ou seja, mantendo uma jogabilidade 2D de plataforma mas com cenários em 3D que exploram profundidade e por diversas vezes até mesmo outros ângulos de visão durante a exploração.
Está escolha ao meu ver foi um grande acerto já que o jogo se destaca bastante em comparação a outros que na maioria das vezes optam por gráficos em Pixel Art ou cartunescos. Não que um seja melhor que o outro, mas confesso que o cenário já está ficando saturado de jogos que parecem mais do mesmo em seu visual surgindo mês a mês.
No jogo controlamos uma sobrevivente de um incidente que parece ter ocorrido com sua nave em Marte e devemos percorrer todo um caminho em busca de ajuda e até mesmo descobrir como escapar deste cenário insólito onde o caos e um grande desastre parece ter ocorrido.
Um ponto positivo que posso dizer sobre este jogo é que fico com o sentimento de sua inspiração ser muito mais voltada aos jogos da Franquia Metroid do que ao gênero ao qual o jogo da Nintendo acabou emprestando seu nome.
A maioria dos jogos hoje acabam tentando levar algo para o lado do RPG trazendo arvores de habilidades, aumento de nível de personagem e batalhas que muitas vezes levam mais para um jogo de plataforma qualquer.
Em MARS 2120 durante todo o jogo eu sentia algo que me levava de fato a uma aventura onde a Samus poderia estar no comando tranquilamente e justamente quando o jogo se distanciava mais de Metroid para ir a um Metroidvania era quando eu sentia que ele decepcionava um pouco.
E sobre a história do jogo vem o que para mim é um dos pontos negativos.
Não espero grandes roteiros em jogos deste gênero ou uma quantidade de textos e conteúdos exagerados. Um exemplo que para mim não é tão legal mas que tem muito, mas muito texto é o recente Gestalt Steam & Cinder que tem uma quantidade exagerada de textos e diálogos longos com NPCs para te contar uma história.
Em MARS 2120 os poucos pontos de história se encontram em pequenas gravações que encontramos espalhados pelos cenários que tentam nos mostrar o que aconteceu ali naquela região do planeta.
No entanto a falta de conteúdo é tão grande que nem mesmo o nome da protagonista nos é revelado e com isso não sabemos quais são seus objetivos, acabamos apenas seguindo de sala em sala porque é o que o jogo exige.
Como é jogar Mars 2120
Metroidvania é metroidvania e aqui não fugimos do que é esperado. Embora nossos objetivos sejam desconhecidos, a navegação pelos cenários funciona de uma forma bem fluida.
Os cenários são distintos e acabam por exigir um bom vai e vem para conseguir explorar e também prosseguir no jogo. Os desenhos de cada área trabalham bem seu Level Design e a ideia do 2.5D, posicionando de forma competente as plataformas, inimigos, itens e objetivos a serem alcançados.
A protagonista dispõe de Pulo Duplo e pode se agarrar e pular em algumas paredes para alcançar novos locais desde o inicio.
Para combate contamos com tiros e golpes a curta distância e confesso que na maior parte do tempo acabei optando mesmo por eliminar os inimigos com os tiros.
Os upgrades funcionam através dos elementos que podemos equipar e adquirir para nossa arma e armadura, sendo estes dano elétrico, de gelo e de fogo.
Neste sentido controlar a personagem e optar por quais armas iremos utilizar pode mudar muito nossa experiência e dificuldade no jogo uma vez que os projeteis mudam bastante a sua forma e função dentro da jornada.
Além disso alguns inimigos acabam sendo elementais e podem sofrer desde dano extra ou ser imune aos nossos projeteis o que vai acabar obrigando o jogador aprender utilizar todos os tipos de armas e técnicas.
As habilidades que encontramos vão se encaixando nos slots disponíveis de maneira automática, e são ativados com a combinação de dois botões e algumas possuem um tipo de timer para que a habilidade possa ser reutilizada. Algumas são focadas na batalha, outras em exploração e até mesmo podem ser mescladas no decorrer do jogo.
Estas habilidades também funcionam de acordo com a arma que estamos utilizando e podemos revezar rapidamente entre as armas elementais enquanto estamos andando ou batalhando apertando apenas um botão.
Durante a exploração também encontramos upgrades para armas, armaduras e habilidades que podemos equipar sempre que chegamos em um ponto de chekpoint do jogo em troca da experiência que ganhamos eliminando inimigos pelas fases.
Confesso que achei bem desnecessário ter estas experiências uma vez que durante todo minha jornada sempre havia pontos de sobra e nunca precisei farmar para liberar algo, por isso seria mais fácil só liberar para ativar e pronto.
Em MARS 2120 não teremos o auxilio de itens e para recuperar nosso HP devemos contar com orbs de energia que os inimigos derrotados soltam.
No quesito cenários, embora sejam bonitos de se explorar, achei que faltou um pouco mais de criatividade ja que iremos passar por situações que qualquer outro metroidvania no geral faz.
Digo isso pois aqui espere por ambientes clássicos como área do gelo, da água, da floresta, do fogo e por ai vai. Por ser um jogo que explora a temática em um outro planeta, acredito que podemos nos desprender de situações tão terráqueas e explorar cenários fora de nossa realidade.
Entendo que o jogo se passa em sua maior parte do tempo em uma colônia humana, mas os biomas e situações teriam a total liberdade de explorar o desconhecido.
Para nos auxiliar nesta exploração contamos com o mapa que também não foge do tradicional mostrando as áreas exploradas em formato de blocos, mas aqui foi realizado de uma forma um tanto quanto confusa. Existem basicamente 2 tipos de mapas, um geral e um outro onde mostra exatamente a área em que estamos com maior destaque.
Consigo entender a ideia que em sua concepção pode parecer algo feito para ajudar, mas a navegação e troca entre uma versão do mapa e outra mais atrapalha do que ajuda. Poderiam ter trabalhado apenas com um grande mapa que vai se expandindo e ficando maior do que ele dividido em pequenos blocos separados.
O jogo ainda apresenta sinais com pontos de exclamação que apontam em qual sala devemos chegar para que a história prossiga. E para aqueles que tem um certo receio de ficar perdido durante a exploração existem opções no menu onde você poderá também habilitar ícones que mostram onde estão upgrades e itens importantes para que nada seja perdido.
Em diversos momentos também encontraremos chefes de área e embora não apresentem muita dificuldade, em sua maioria são batalhas bem criativas e que escalam sua dificuldade e exigem mais do jogador conforme progredimos no jogo.
Um jogo com ótimas ideias mas faltou algo.
É estranho dizer isso mas Mars 2120 é um ótimo jogo mas que deixa a impressão de que está faltando algo ao mesmo tempo.
Tudo que é relacionado ao Game Design, as ideias de movimentação e upgrades do personagem, exploração e backtracking, todas esses quesitos funcionam de uma maneira que faz MARS 2120 ser um título muito gostoso de se jogar.
Porém em diversos momentos sentimos que falta um acabamento, um refino para que este jogo seja melhor.
Nós jogamos a versão de PlayStation 5 e mesmo assim o jogo possuía loads por vezes demorados e toda vez em que entramos em uma sala de checkpoint e iriamos fazer o acesso para salvar ou realizar os upgrades o jogo travava por alguns segundos.
Em alguns momentos os combates também pareciam falhar por falta de refino.
São pequenos momentos, atrasos, defeitos que acabam incomodando, mas que não tiram de fato a diversão ou estragam a experiência.
Acredito que está critica sobre parecer que está faltando algo é justamente por ter este sentimento que tudo ali está tão bem resolvido no conceito e ideias aplicadas que faltou algo para que tudo fosse mais harmonioso.
Eu compreendo quais são as dificuldades de pequenos estúdios para a criação de jogos e sei ainda mais das dificuldades de ser algo feito aqui no Brasil.
É louvável o que a QuByte tentou fazer aqui explorando um jogo 2.5D ao invés de ir no mais do mesmo em Pixel Art, mas ficou de fato este sentimento de que chegou quase lá para ser um jogo ainda melhor.
Não sei dizer se precisariam de mais tempo ou até mesmo mais dinheiro ou uma equipe maior, mas a sensação que eu tive foi essa de que mesmo sendo um jogo gostoso de explorar ainda assim faltou algo.
MARS 2120 vale a pena?
Mesmo que o jogo tenha estes pequenos entraves que relatei, é notória a satisfação que ele nos dá em jogar e muito disso graças ao seu level design.
Metroidvania é um dos meus gêneros favoritos e consigo sentir que aqui temos algo bom, muito bom, que se diferencia de fato desta grande leva de jogos que na maioria das vezes está tentando apenas surfar a onda.
Fica claro que o time que desenvolveu MARS 2120 sabia o que estava fazendo em sua essência e este algo que eu sinto falta seria apenas uma questão que se resolveria, ja que tudo que o jogo precisa para brilhar já está lá.
Não é uma jornada longa levando em média umas 8h para ser finalizado e confesso que quando não estava jogando, estava pensando nele e com vontade de continuar ja que seu gameplay e experiência de batalhas e plataformas é realmente muito bom.
Eu indico e acredito que MARS 2120 valha a pena tanto para o público que gosta de jogar jogos deste gênero, como também para aqueles que queiram iniciar pois as acessibilidades trabalhadas aqui podem servir como ferramentas para convidar mais pessoas a explorar jogos assim.
Agradecemos os amigos da QuByte Interactive por nos enviarem uma cópia do jogo para a criação deste review.
